terça-feira, 14 de agosto de 2012

Dia dos pais

Estava ele perdido em seus pensamentos, mas não eram simples pensamentos. Estes pensamentos já duravam anos, e por várias e várias vezes o acontecimento deles teve que ser adiado.
Mas tudo tem seu dia e já não havia mais como adiar. O momento era propício e se não ocorresse naquele instante talvez nunca pudesse ter existido tudo aquilo.
O filho com seu violão e uma música impressa em uma folha toda dobrada e amassada, aproxima-se de seu pai que está deitado no sofá cochilando, eram meio-dia e alguma coisa, quase uma da tarde, o sono dos justos. E ele senta no sofá ao lado, posiciona a cifra e aconchega o violão no colo. Por alguns minutos ele fica observando seu velho pai dormindo e dando leves suspiros entre a respiração e a expiração.
Ouve-se barulhos de uma construção ao lado, e aquela respiração cadenciada cessa. Acordou? Não. Apenas ficou apreensivo no seu inconsciente.
E o filho pergunta, finalmente despertando seu pai:
- Não acordou com o barulho? - no instante em que sei pai abre os olhos olhando para o teto, mas fecha-os rapidamente - Está bem alto, não?
- Acordei mas continuei dormindo. - Responde seu velho dando uma risada, só então ele abre os olhos e vira a cabeça, enxergando seu filho sentado ao seu lado com o violão e pergunta com um tom surpreso.
- O que está fazendo?
- Bem... - e a voz não sai. Ela simplesmente não sai!
Como areia descendo pela garganta e um aperto enorme em seu peito. Não demora muito para as lágrimas começarem a rolar pelo seu rosto e ele cobre seus olhos tentando impedir que elas continuem, em vão.
E seu velho pai pergunta.
- O que está acontecendo, está tudo bem?
Ele só balança a cabeça concordando e faz sinal com as mãos pra esperar alguns instantes. O soluçar do choro com os olhos cheios de lágrimas é quase um desabafo.
E ele tenta uma nova investida, mesmo com a voz trêmula e um nó na garganta.
- Faz muitos anos que eu tenho treinado pra te dar este presente, desde que eu ganhei este violão de você. Nunca consegui exatamente por este motivo.
E volta a cair em lágrimas.
Seu pai apenas continua observando, começando a se emocionar. O filho então fala.
- Não sei se conseguirei, mas farei o melhor que eu posso - com a voz ainda trêmula, baixando sua cabeça e começando os acordes finalmente tocando aquela música que há anos tentava tocar mas não conseguia.
E a cada frase tremida, cada acorde mesmo que errado, ele percebe que seu pai ali deitado a sua frente com os olhos fechados está absorvendo cada vibração.
Mais lágrimas rolam de seu rosto, enquanto toca o violão enxarcando-o, e canta quase que em sussurros roucos mas ele não para, ele sabe que vai conseguir.
E ele consegue, não sem se esvairir em lágrimas e não sem sentir o coração quase sair pela boca.
Seu pai permanece inerte. Olhos fechados, respiração calma.
Ao término, então ele fala.
- Eu te amo pai!
Um silêncio.
Então ele observa os lábios de seu pai começarem a tremer, indicando que ele finalmente se entregou às emoções, e ao abrir os olhos os mesmos já estavam transbordando. Ele senta-se no sofá, levanta-se e da um PUTA abraço em seu filho, daqueles de urso bem apertados mesmo.
- Eu também te amo, muito! É por vocês que eu sempre lutei minha vida toda. - responde ele chorando aos ombros do filho, se referindo à sua família.
- E eu não sei o que seria de mim sem você pai
- Você seria simplesmente você, sem mais nem menos, simplesmente você. Com todos seus medos e sonhos, seria e sempre será você
Longos minutos se passam ali abraçados, e o filho sente que aquilo é o mais próximo que ele chegou ao céu em toda sua vida.
Seu pai sempre foi seu herói, seu exemplo e espelho. Aquela figura que você quer ser quando crescer, esse é seu velho.
E então depois de algum tempo
- Nem foi tão difícil assim. - fala o filho dando um pequeno sorriso constrangido
- Quando fazemos as coisas com o coração é sempre mais difícil. Mas eu estou muito feliz que você conseguiu - sorri seu pai - Ai ai, assim você mata o 'véio' do coração sabia? - E da um alto sorriso
Seu filho apenas sorri junto e então eles separam o abraço.
E eles se falam.
- Obrigado por existir pai
- Obrigado por ser meu filho
E com um beijo no pescoço o filho despede-se de seu pai, pedindo a benção e indo trabalhar.

"Pode ser que daqui algum tempo
haja tempo pra gente ser mais
Muito mais que dois grandes amigos
Pai e filho talvez"




quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Levar a nada

Nada
Seria diferente nem se o mundo pudesse voltar atrás
Nada
Mudaria mesmo que pudesse reprisar tudo o que passou
Nada
Teria sentido
Eu sinto muito por tudo que aconteceu
A verdade foi dita e sei que doeu
Mas a vida não nos deu tempo para entender
Tanto pra mim quanto pra você

Palavras jogadas, não voltam mais
Ofensas e mentiras que não era preciso
Agora não tem como voltar atrás
Preciso aprender a viver comigo, sozinho

Não fizemos tudo pra merecer
Tentamos em vão, mas sem aprender
Que o amor não é apenas uma questão de querer

Sozinho eu fico
Tentando encontrar
Um mundo novo em que eu possa me encaixar

Sozinho eu sou
Mas não vou mais fraquejar
Porque o destino é incerto e não é a gente quem faz

Cada segundo que passa
É um tormento sem igual
Cada suspiro em vão por alguém que sequer me vê
Toda lembrança evapora, e não há volta

A vida é assim
Ruim para mim
Mas ao mesmo tempo eu sei
Que nada acontece por acaso
E que tudo que eu quero um dia
Virá até mim

Sem medo, mas sem certeza
Que aquilo que busco
É o melhor que pode acontecer
Sem medo, mas com certeza
O que acontece agora
Será lembrado para sempre
Até o fim

quinta-feira, 2 de agosto de 2012




Se tem uma coisa que aprendi na vida para me defender, me preservar e também evitar muitas perguntas, foi a de não deixar transparecer o que realmente se passa comigo.
Se estou triste ou infeliz e o motivo é você, eu fico apenas triste e infeliz com você. Não significa que o mundo todo precise captar essa minha tristeza ou infelicidade. Eu me blindo. Continuarei sendo normal com todas as outras pessoas como eu sempre fui, sem mais nem menos. Não necessariamente estarei bem com isso, logicamente que não. Mas aprendi com alguém que um dia sem sorrir é um dia desperdiçado então independente do que se passa em minha cabeça e coração, quem não está afetando em nada minha vida negativamente não tem o porque de receber energias negativas também.
Eu não preciso mostrar as quatro ventos como eu me sinto, só tenho que ser cordial, amigável e interagir o mais alegremente possível. Tenho uma rotina, tenho um dia a dia, tenho compromissos, tenho afazeres, tenho meus amigos. Nenhum deles me causam mal algum, então porque eu deveria retribuir mal humorado ou deixar transparecer a minha tristeza?
Quem conhece as minhas dores jamais pode um dia me julgar e achar que se estou em um momento meu, intimo, muito infeliz, mas apareço em fotos com amigos sorrindo, cantando e me divertindo, não quer dizer que aquilo que me deixou infeliz é inexistente pra mim. Eu só quero o melhor de todos, e se pra isso for preciso eu mascaro sim as minhas dores e meto um sorriso estampado na cara e vamos festar. Porque eu tenho que expelir raivas e angústias, medos e decepções em pessoas que provavelmente estão fazendo o mesmo, escondendo o que realmente se passa mas o ambiente ali é outro, o ambiente é fraterno e aconchegante pra qualquer um. Essas pequenas coisas da vida, mesmo com alguns fingimentos, é que fazem valer a pena.
Agora pra você, eu fui o mais verdadeiro possível, e não adiantou.
Me doei mais do que devia, pra acabar sofrendo pior que um condenado.
Chega.
Se tem alguém que pode me julgar e achar o que está certo ou errado em minha vida, sou eu.
Ninguém mais...